Como o verde (e uma abelha) mudaram a minha vida
- Olivia Uliano
- 10 de set. de 2019
- 3 min de leitura
Uma breve história sobre como descobri meu propósito através da natureza e a história de uma abelha

Nem sempre eu tive um dedo verde. Na verdade, até hoje acontece de uma planta ou outra morrer nas minhas mãos, seja porque reguei demais, ou porque ainda estamos “nos conhecendo”. Faz parte do aprendizado, o importante, é não desistir – e esta com certeza foi uma das lições que levei para mim destes processos com as plantas.
Eu cresci numa cidade pequena em Minas Gerais, chamada São Gotardo, e vivia em proximidade com as plantas, indo para a fazenda, andando descalça, brincando na lama, e lendo livros acomodada nos altos galhos de uma árvore que eu escalava (que eu chamava carinhosamente de “minha Mangueira”). Eu era criança, e lembro de trocar cartas com a minha avó que morava em São Paulo (sim, ainda sou desta época), e o assunto? O passarinho que habitava a árvore em frente à minha casa, um Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) . São memórias tão simples, mas tão lindas, e de alguma forma, foram me conectando cada vez mais à natureza.

Depois, com 18 anos me mudei para São Paulo, e lá o ritmo era outro, a cidade cinza,
incessante e poluída (mas que com o tempo, também fui aprendendo a amar). Chegou um momento, após a conclusão da minha graduação em Arquitetura e Urbanismo, que comecei a me questionar sobre como gostaria de viver, e onde – não queria mais viver em uma cidade tão grande. Queria ter qualidade de vida, e vivenciar meu tempo com qualidade.
Comecei a fazer vários cursos para me “encontrar” e em um deles, que era em Poços de Caldas-MG, tive o contato com uma planta que chamou muito a minha atenção – um Brinco de Princesa (Fuchsia hybrida). Antes de voltar para casa, peguei um galhinho, coloquei em um papelo úmido, e levei comigo no carro. Chegando em São Paulo, coloquei na água, para ver se enraizaria – e deu certo. Hoje ela está linda, cada vez maior, contornando a borda da porta que dá para o jardim, e floresce todo ano, mesmo estando em vaso. Foi mágico presenciar seu crescimento, e foi minha primeira experiência de propagação (fora o feijãozinho no algodão da escola). Fui aprendendo a cuidar dela, como adubá-la, o que funcionava melhor, qual lugar ela gostava mais (é incrível observar como mover uma planta alguns centímetros já podem fazer uma grande diferença na sua adaptação).
Continuei o processo de aprendizados, estudando e lendo muito, até que fiz um curso de Agricultura sintrópica, que é um tipo de sistema agroflorestal, para produção sustentável de alimentos (tema para outro post). Lá, lembro que o professor, Felipe Pasini ao explicar o conceito de sintropia falou sobre a abelha - como indivíduo, ela é entrópica, um ser complexo, que vai definhando, perdendo a energia, até morrer, e virar basicamente Carbono, um elemento simples. Porém, como ser coletivo, ela vive, poliniza flores e frutos, ajuda na cadeia de produção e na sobrevivência de diversas espécies - um exemplo de como um ser “simples”, pode contribuir para um sistema “complexo”, através das suas interações. Neste momento, tive uma epifania – nossa presença neste planeta é passageira, mas o que realmente tem poder, são as nossas atitudes. Para mim, basicamente, foi a descoberta do “sentido da vida”.
Foi a partir desta ocasião, que descobri que queria trabalhar como Paisagista. Ajudando através de meus projetos e minhas atitudes a tornar o mundo, um lugar mais verde e mais agradável de se viver. Trazer a natureza de volta para o ambiente urbano, seja através de um jardim, uma horta, uma praça, uma árvore, um parque - um local que permita a cada um, viver seu tempo com qualidade, seja lá onde estiver.
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